Projeto “EnvelheCiência”: por que e para que?

Autora: Marcia Regina Cominetti, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar

(Imagem: Divulgação)

Texto11Se você é leitor e leitora dessa coluna, já sabe que o envelhecimento da população é uma realidade global, e o Brasil não é exceção. Estamos passando por uma transformação da pirâmide etária brasileira, para uma estrutura mais parecida com um barril1. Isso mostra que a base do que antes era uma pirâmide, formada por pessoas jovens, está cada vez mais estreita, e o topo, formado por pessoas mais velhas, está cada vez mais largo. Essa estrutura chegará a formar uma pirâmide invertida em algumas décadas.

Com o envelhecimento populacional brasileiro batendo à porta, surge a necessidade imprescindível de estratégias para aumentar o conhecimento e a compreensão sobre o processo de envelhecimento e as demências. Nós comentamos sobre isso na coluna de novembro.

Para alcançar este objetivo, o sistema de educação escolar pode ser uma excelente estratégia. Transferir conhecimento sobre envelhecimento e diferentes tipos de demência a todos os membros da sociedade é uma das necessidades reconhecidas pelo plano de ação global de resposta à demência (2017-2025)2, da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na área de ação que trata sobre a conscientização das demências, há o incentivo para que estudantes e professores de escolas desenvolvam programas para incentivar atitudes favoráveis ​​à demência na comunidade. Aumentar a compreensão das crianças sobre o processo de envelhecimento, a saúde do cérebro e os diferentes tipos de demência é benéfico a longo prazo. Esses benefícios estão relacionados a uma maior conscientização e compreensão da saúde do cérebro, do envelhecimento e dos diferentes tipos de demência. Isso se reflete em uma melhor compreensão da importância de um estilo de vida saudável, incorporando o conhecimento do programa e associando-o à redução do risco do desenvolvimento de demência. Além disso, contribui para uma visão mais otimista do envelhecimento.

Para melhor dispersar esses conteúdos, pensamos que um curso de formação de professores seria uma estratégia eficaz. Assim nasceu o projeto EnvelheCiência, que incorpora, além do curso de formação de professores já mencionado, a disseminação de conteúdos sobre o envelhecimento no formato desta coluna que publicamos todos os meses aqui, na página do ICC.

No decorrer do curso de formação, os educadores poderão utilizar um conjunto de ferramentas e realizar a transposição didática, incorporando o conteúdo em suas aulas no ambiente escolar. Inicialmente o curso será oferecido em formato de um projeto piloto para duas escolas da rede municipal de educação da cidade de São Carlos (SP): as escolas municipais de educação básica Carmine Botta e Dalila Galli. Os professores serão convidados a realizar as atividades formativas durante o horário de trabalho pedagógico coletivo. As aulas terão formato online, com atividades síncronas e assíncronas. Com essa abordagem, esperamos proporcionar um momento de reflexão coletiva aos professores do ensino fundamental, para que juntos possamos criar intervenções que possam ser aplicadas em sala de aula.

O curso está em consonância com os conteúdos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que estimula a inserção de tópicos voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização da pessoa idosa nos currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal. Apesar do caráter obrigatório dos temas transversais contemporâneos da BNCC, as escolas possuem autonomia para escolher o conteúdo de seus currículos. Assim, inserir temas relacionados ao processo de envelhecimento em todas as etapas da Educação Básica criará uma nova forma de pensar e agir sobre os idosos.

Educar os estudantes para que desenvolvam atitudes respeitosas em relação às pessoas idosas e criar oportunidades para refletir sobre o envelhecimento significa considerar que a Educação tem um papel central nessa mudança de paradigma. O objetivo final desse projeto é que posteriormente tenhamos uma política nacional de educação para o envelhecimento, a exemplo do que foi feito no estado de Santa Catarina em 20223.

Quem sabe, no futuro, tenhamos um país com uma melhor compreensão do envelhecimento, com menos idadismo, menos estigma e que dá muito mais valor às pessoas idosas e a sua contribuição à sociedade. Essa abordagem abrangente pode contribuir para a construção de uma sociedade mais consciente e solidária em relação às questões do envelhecimento, influenciando positivamente as políticas públicas no Brasil.