Por que é uma boa ideia ampliar a conscientização sobre as demências?
Autora: Marcia Regina Cominetti, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar
(Imagem: Pixabay)
Os resultados mais recentes do censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentados no último dia 27 de outubro, mostraram que o número de pessoas com 65 anos ou mais no Brasil passou de 7,4% em 2012 para 10,9% da população brasileira. O esperado para 2050 é que os idosos alcancem cerca de 25% da população. Isso representa uma população com ¼ de pessoas idosas[1].
Esta alteração já está impactando no número de pessoas com algum tipo de demência em nosso país. Por isso, é importante que se fale sobre ampliar a conscientização sobre as demências. A conscientização de toda a sociedade sobre as demências informa sobre seus sintomas, tratamentos disponíveis e estratégias de cuidado. Isso educa e capacita as pessoas a tomarem decisões e a se prepararem para o futuro. Infelizmente ainda não temos essa cultura em nossa sociedade. O que ocorre com frequência é que alguém em nossa família ou círculo de amigos recebe o diagnóstico de demência e, com ele em mãos, ficamos perdidos, sem saber qual caminho tomar, onde buscar ajuda ou conseguir mais informações sobre o futuro e a jornada da pessoa com demência. Quanto mais nos prepararmos para os desafios do envelhecimento, mais fácil será nossa vida nesse período. Com a conscientização sobre esse processo e sobre algumas condições que podem surgir ao longo dessa fase, podemos planejar antecipadamente. Esse planejamento pode incluir questões financeiras, cuidados de saúde e decisões legais. Isso pode aliviar o fardo sobre as famílias e melhorar o atendimento à pessoa com demência.
A conscientização sobre demências pode aprimorar o reconhecimento dos sinais precoces da doença, seja em si mesmas, ou em seus entes queridos. Pode, ainda, levar a uma maior compreensão e apoio da comunidade, além indicar os serviços adequados para ajudar as famílias a lidar com os cuidados e as demandas emocionais. Quanto mais cedo uma demência for diagnosticada, maiores são as chances de medidas apropriadas serem tomadas para retardar sua progressão e melhorar a qualidade de vida.
Além disso, o estigma associado às demências pode levar ao isolamento social e trazer muitos prejuízos às pessoas idosas, suas famílias e à sociedade de maneira geral. A conscientização pode ajudar a reduzir o estigma, promovendo a compreensão de que as demências são condições médicas legítimas que podem ser enfrentadas com dignidade, não sendo um veredito de fim de vida.
À medida que a conscientização sobre as demências aumenta, também há uma pressão crescente sobre os governos e as organizações de saúde para financiar pesquisas, programas de apoio e políticas que abordem as necessidades crescentes das pessoas com demência. Na metade do mês de outubro deste ano, por exemplo, a Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal[2] discutiu o Projeto de Lei 4.364/2020, que estabelece a Política Nacional de Enfrentamento ao Alzheimer e Outras Condições Demenciais. Esse PL define como o país deve combater as demências e está alinhado com o Plano de Ação Global de Saúde Pública da Organização Mundial da Saúde para o enfrentamento das demências.
Embora ainda tímidas no Brasil, inciativas dessa natureza já são uma realidade em outros países. No Reino Unido, o programa Dementia Friends[3] tem como objetivo transformar a maneira como a sociedade pensa, age e fala sobre as demências, fornecendo estratégias para que as pessoas possam entendê-las melhor e a viver bem com a doença. Programas como esse são fundamentais na educação do público, no combate ao estigma e na promoção de um ambiente mais acolhedor para pessoas com demência.
O projeto STRiDE[4] de fortalecimento das respostas à demência é outro exemplo e está presente em vários países, inclusive no Brasil. A iniciativa prevê aumentar a conscientização sobre as demências, melhorar o acesso a cuidados de saúde de qualidade, apoiar pessoas vivendo com demência e suas famílias, promover a pesquisa sobre a demência e desenvolver políticas públicas para enfrentar esse desafio crescente de saúde.
Ampliar a conscientização sobre as demências não é apenas uma ideia a ser disseminada, mas uma necessidade urgente em nossa sociedade. A educação e a informação sobre as demências não apenas melhoram a qualidade de vida das pessoas, mas também reduzem o estigma, pressionam por políticas de saúde pública mais abrangentes e criam um mundo mais inclusivo e solidário para aqueles que vivem com demência. A conscientização em torno desta temática é, sem dúvida, a luz que ilumina o caminho em direção a um futuro mais humano e compassivo para quem vive com demência, seus familiares e toda a sociedade.
[1] https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/
[2] Fonte: Agência Senado