Soluções baseadas na natureza: como planejar e adaptar moradias para as pessoas idosas?

Autora: Luzia Cristina Antoniossi Monteiro, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar

(Imagem: Karen Pulgatti)

Texto20Os leitores desta coluna já sabem que o crescimento populacional de pessoas idosas no Brasil está acelerado. Mas como é a distribuição desse aumento, em termos de áreas geográficas? Os dados mostram que o aumento do número de pessoas idosas se concentra nas regiões urbanas[1] . Por isso, há a necessidade de estratégias inovadoras para que as pessoas possam, de fato, acessar e usufruir o espaço urbano. A moradia digna para todos os brasileiros é fundamentada no artigo 6º da Constituição Federal de 1988 e respaldada por documentos internacionais, e ainda nos artigos 37 e 38 do Estatuto da Pessoa Idosa.

A cidade exerce fascínio sobre as pessoas, mas cria condições propícias tanto para o bem-estar quanto para o adoecimento, em uma dinâmica mútua entre o corpo humano e o espaço urbano. Esse ambiente influencia e é influenciado pelas pessoas, formando uma relação inseparável. Quando bem apoiada pela sociedade e pela gestão pública, essa interação pode resultar em locais mais sustentáveis, promovendo a integração entre o ser humano e a natureza. O gestor público, ao formular políticas urbanas e habitacionais, deve considerar as interrelações entre moradia, espaço urbano e os desafios contemporâneos, como eventos climáticos extremos, que alteram a dinâmica da cidade e das residências.

É essencial que as moradias sejam planejadas ou adaptadas para as pessoas idosas, mas também para promover o desenvolvimento sustentável, atendendo às necessidades atuais sem comprometer as futuras gerações. Nesse contexto, como garantir que as habitações em políticas públicas sejam sustentáveis?

Uma abordagem é alinhar-se aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, como o ODS 11, que visa garantir acesso a habitações seguras, adequadas e acessíveis, contribuindo para cidades mais sustentáveis e resilientes.

Uma forma de contribuição às moradias mais sustentáveis por meio das políticas públicas pode ser aplicando o conceito de soluções baseadas na natureza (SbN). Nessas soluções, medidas inspiradas, apoiadas ou copiadas da natureza visam atender simultaneamente objetivos ambientais, sociais e econômicos. As SbN podem ser pequenas ou grandes realizações para restabelecer ambientes degradados, alterados ou destituídos de elementos essenciais ao bem-estar humano e ambiental. Podem caracterizar-se por atitudes, ações, projetos e programas, alternativos e adicionais aos habitualmente adotados, com o objetivo preventivo e de enfrentamento aos eventos climáticos, voltados para a contribuição de cidades mais equitativas e resilientes.

Valorizar a construção de políticas, em especial as urbanas e as habitacionais, que amparem cidades para pessoas idosas é medida que se impõe ante a dinâmica e o contexto do envelhecimento populacional já instalado em nosso país. Para além das perspectivas da habitabilidade, a moradia digna é aquela que atende e respeita as subjetividades do morador, proporcionando o bem-estar para desfrutar as funções da cidade em qualquer idade.

[1] https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/41111-populacao-estimada-do-pais-chega-a-212-6-milhoes-de-habitantes-em-2024