Qual a importância da educação para as pessoas idosas?

Autora: Keika Inouye, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar

(Imagem: Karen Pulgatti)

Texto17Você já se perguntou como a educação pode favorecer o envelhecimento bem-sucedido? De modo geral, ela pode ser dividida em formal, não formal e informal. A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente estabelecidos e que, tipicamente, se inicia na infância e percorre os ciclos básico, fundamental e superior. A não formal corresponde às iniciativas organizadas de aprendizagem que acontecem fora dos sistemas de ensino, como, por exemplo, aquelas promovidas por ONGs em ambientes comunitários. Já a informal é repleta de valores e cultura própria, pois ocorre ao longo da vida durante o processo de socialização na família, entre amigos, em bairro, clube, entre outros.

Em todas as fases da vida, esse aprendizado pode ser um importante meio de combater o preconceito e de preparar toda a sociedade para viver positivamente a velhice. A importância do ensino formal para o envelhecimento saudável já está bem estabelecida na literatura científica, por exemplo, como um fator que protege e diminui os riscos de demência em quase 10% para regiões pobres do Brasil [1].

Mas, se no passado, a construção de saberes das crianças foi priorizada – pois éramos “um país de jovens” –, o presente manifesta novas demandas de aprendizado que podem acontecer ao longo da vida, inclusive na velhice. Nesse sentido, a educação ao longo da vida amplia as possibilidades e atende os cidadãos em diversas necessidades, que vão além de aprender a ler, escrever ou adquirir saberes para o mercado de trabalho. Portanto, ela é uma ferramenta poderosa na promoção do envelhecimento bem-sucedido.

Iniciativas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), Movimento de Aprendizagem de Jovens e Adultos (MOVA) e Universidades Abertas são bons exemplos de capacitações voltadas para pessoas idosas. A EJA é uma modalidade de ensino formal destinada a jovens, adultos e pessoas idosas que não concluíram o ensino fundamental ou médio convencional. Para aqueles que, por questões sociais, econômicas ou pessoais não tiveram a oportunidade de finalizar o ciclo básico em idade apropriada, a EJA viabiliza a retomada e conclusão dos estudos com certificação em tempo reduzido. Esta modalidade de ensino é importante para a redução das desigualdades sociais e para a realização pessoal de indivíduos mais velhos, que podem obter conhecimento e aumentar as possibilidades de inserção laboral e social.

A universidade aberta à terceira idade[2] compreende atividades educativas para adultos e idosos oferecidas por instituições de ensino. O objetivo é possibilitar que pessoas mais velhas tenham acesso ao conhecimento em áreas de seu interesse, bem como convívio intergeracional.

Os avanços científicos têm solidificado a ideia de que a diversidade individual não é um obstáculo para o alcance de realizações pessoais e sociais. Cada pessoa, independentemente de sua idade, deficiência, adversidades ou problemas de saúde, possui um potencial inato. Se forem oferecidas oportunidades adequadas, esse potencial pode prosperar, permitindo que cada indivíduo contribua plenamente para a sociedade, desfrutando de saúde, qualidade de vida e realização pessoal.

As pessoas com 60 anos ou mais têm vários anos pela frente e não podem ficar desprovidas de recursos na área de educação. As possibilidades de aprender precisam se multiplicar, enquanto a noção de qualificação deve ser substituída por noções de competência evolutiva e capacidade de adaptação. Assim, o aprendizado continua sendo de extrema importância, mesmo ao longo da complexa jornada da vida adulta.

[1] Suemoto CK, Mukadam N, Brucki SMD, Caramelli P, Nitrini R, Laks J, Livingston G, Ferri CP. Risk factors for dementia in Brazil: Differences by region and race. Alzheimers Dement. 2023 May;19(5):1849-1857.

[2] Aqui, cabe uma ressalva relacionada a usar o termo “terceira idade”: essa designação foi introduzida com o intuito de descrever indivíduos que alcançam a aposentadoria em virtude da idade. No entanto, essa terminologia não engloba toda a diversidade de experiências vivenciadas por aqueles na fase mais avançada da vida.