Quais as consequências das quedas para as pessoas idosas?

Autora:  Juliana Hotta Ansai, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar

(Imagem: Divulgação)

Texto14Você, leitor ou leitora da coluna EnvelheCiência, já leu em outros textos prévios sobre o aumento da população idosa mundialmente. Com o envelhecimento populacional, pode haver o aparecimento de eventos negativos, como as quedas. Cerca de 30 a 40% das pessoas idosas sofrem ao menos uma queda por ano 1. Esta prevalência pode aumentar, dependendo da fragilidade física e cognitiva da pessoa. Além disso, indivíduos que sofreram uma queda apresentam de 60 a 70% risco de cair novamente.

As quedas podem acontecer em casa, em especial entre pessoas idosas mais frágeis e dependentes, ou fora de casa, principalmente entre pessoas mais ativas e saudáveis sujeitas a riscos ambientais, como calçadas irregulares, buracos e falta de iluminação. Há, ainda, diversos fatores de risco de quedas: além dos ambientais, dificuldade de equilíbrio, diminuição de força muscular, uso inadequado de medicamentos, medo de cair, déficit de vitamina D, tontura, dificuldade visual, dor, presença de doenças e síndromes, como a demência, entre outros. Quanto mais fatores de risco a pessoa apresenta, maior a chance da pessoa cair 2.

Mas, afinal, o que é queda?

A queda pode ser definida como “um evento que resulta em uma pessoa vinda inadvertidamente para o chão ou outro nível abaixo e que não seja consequência de uma pancada violenta, perda de consciência, início súbito de paralisia ou ataque epiléptico” 2. Este conceito não necessariamente indica que a queda levará o indivíduo ao chão, podendo a pessoa, por exemplo, cair sentada no sofá ou em uma cadeira baixa, sem que tenha esta intenção. Ainda, um desmaio que leva uma pessoa ao chão não é considerado queda, apesar dela precisar de uma avaliação e de um bom acompanhamento. Além disso, a queda pode não resultar em uma consequência física grave, mas pode ser um fator de risco para uma nova queda mais séria 3.

E por que falamos tanto de quedas em pessoas idosas?

Além da alta prevalência, que também pode acometer outras faixas etárias, as quedas neste público podem levar a consequências mais sérias. Podemos ter consequências físicas, como lesões, escoriações, traumatismos cranianos e fraturas, de fêmur e punho, por exemplo. Há consequências psicológicas e cognitivas, como medo de cair, ansiedade, depressão e dificuldade de atenção e organização, que muitas vezes - erroneamente - não são associadas às quedas. Também podem trazer outras consequências, como hospitalização, institucionalização (internar a pessoa em instituição de longa permanência para pessoas idosas), perda de autonomia, dificuldade de realizar suas atividades diárias como antes, aumento de custos de saúde, dependência de outra pessoa para algumas atividades, isolamento social e até morte 3.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 680 mil pessoas em todo mundo morrem a cada ano devido às quedas e lesões relacionadas ao evento. Além disso, aproximadamente 172 milhões de quedas resultam em fraturas ou incapacidades físicas 4.

Dessa forma, as quedas constituem um problema de saúde pública e de grande impacto social no Brasil e no mundo. É fundamental que a sociedade, os profissionais e os serviços que trabalham com esta população, os familiares e, principalmente, as pessoas idosas, como sujeito ativo de seu cuidado, tenham conhecimento sobre as quedas e não escondam ou subestimem este evento. Precisamos discutir sobre a temática, sendo a educação, o rastreio e a prevenção de fundamental importância para a população idosa. Neste sentido, é urgente a necessidade de criar e implantar políticas públicas que visem a diminuição dos fatores de risco potencialmente modificáveis de quedas e o incentivo à prevenção e ao monitoramento da saúde das pessoas idosas a nível nacional.

1 AMBROSE, Anne Felicia; PAUL, Geet; HAUSDORFF, Jeffrey M. Risk factors for falls among older adults: a review of the literature. Maturitas. Boston, V. 75, N. 1, P. 51-61, Fev 2013.

2KELLOGG INTERNATIONAL WORK GROUP ON THE PREVENTION OF FALLS BY THE ELDERLY: The prevention of falls in later life. Danish Medical Bulletin. Michigan, V. 34, N. 4, P. 1-24, Abr 1987.

3 ANSAI, J. H.; GRAMANI-SAY, K. ; TAVARES, LARISSA RIANI COSTA ; ROSSI, PAULO G. . Gestão de casos como instrumento para prevenção de quedas em pessoas idosas caidoras. 1. ed. São José dos Pinhais: Seven Publicações Ltda, 2024. v. 1. 118p.

4 WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. Relatório global da OMS sobre prevenção de quedas na velhice. In: Relatório global da OMS sobre prevenção de quedas na velhice. São Paulo, 2010. P. 64-64.