Como as doenças cardiovasculares afetam as pessoas idosas?

Autora: Camila Bianca Falasco Pantoni, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar

(Imagem: Karen Pulgatti)

Texto18Você sabe o que são as doenças cardiovasculares (DCV)? De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde1, elas constituem um grupo de doenças tanto do coração quanto dos vasos sanguíneos, e incluem doenças dos vasos que irrigam o músculo do coração (doença arterial coronariana - DAC); que irrigam o cérebro (doença cerebrovascular, a exemplo dos acidentes vasculares cerebrais - AVC); e que irrigam as pernas e os braços (doença arterial periférica). Também englobam aquelas decorrentes de malformações no coração (cardiopatia congênita); coágulos de sangue nas veias das pernas (trombose venosa profunda); ou ainda doenças que elevam persistentemente a pressão arterial (hipertensão arterial - HA); aquelas que afetam o bombeamento ou enchimento de sangue do coração (insuficiência cardíaca); dentre outras.

As DCV representam cerca de 45% das mortes mundiais por doenças crônicas não transmissíveis e, no Brasil, representam a principal causa de morte. Estima-se que grande parte dos óbitos ocorra por AVC e por “ataques cardíacos”, eventos decorrentes de uma obstrução do fluxo sanguíneo ao cérebro ou ao coração, respectivamente1,2.

E como ficam as pessoas idosas neste contexto? De acordo com o Relatório de Estatística Cardiovascular do Brasil, atualizado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia no ano de 2021, a prevalência de DCV aumenta significativamente com a idade. E estudos demonstram que a idade avançada, dentre outros fatores de risco (como história de tabagismo e presença de diabetes), pode estar associada à presença de DCV. Além disso, o sistema cardiovascular sofre alterações estruturais e funcionais com a idade, o que pode comprometer o bom funcionamento do coração3.

Dentre as DCV conhecidas, temos a HA e a DAC como algumas das mais comuns e que afetam, consideravelmente, a população idosa. Estima-se que mais de 1 bilhão de pessoas, no mundo, sejam hipertensas, com mais de 38 milhões no Brasil, sendo que mais de 60% dos hipertensos são idosos. Em relação à DAC, o número de pessoas com esta condição aumentou significativamente nos últimos anos, especialmente com o processo de envelhecimento3.

Afinal, existem formas de prevenção e/ou tratamento para estas condições? Embora saibamos que o processo de envelhecimento e a carga genética possam influenciar na ocorrência destas condições, o estilo de vida saudável é um grande fator de proteção contra o aparecimento e/ou progressão destas doenças. Neste sentido, mudanças nos comportamentos diários se fazem necessárias para a promoção de um envelhecimento saudável, ativo e com qualidade. E, dentre as formas de se adotar hábitos mais saudáveis, está a busca por uma alimentação adequada, redução do consumo de bebidas alcoólicas e tabaco, boas noites de sono e, não menos importante, a prática regular de exercícios físicos. Essa última pode resultar em uma redução geral acentuada do risco de eventos cardiovasculares, quando comparado ao sedentarismo4.

Assim sendo, é de extrema importância que os serviços de saúde, os profissionais e a própria população idosa estejam atentos à saúde cardiovascular que, por si só, pode ser impactada com o processo de envelhecimento. O conhecimento sobre as DCV necessita ser disseminado e a adoção de bons hábitos de vida incentivada, a fim de prevenir a instalação ou progressão destas doenças. Além disso, políticas públicas voltadas à esta população são fundamentais para monitoramento e aperfeiçoamento do cuidado à saúde cardiovascular.

 

1  Acesso em: https://www.paho.org/pt/topicos/doencas-cardiovasculares.

2 OLIVEIRA, Gláucia Maria Moraes de et al. Estatística Cardiovascular–Brasil 2021. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 118, p. 115-373, 2022.

3 Oliveira GMM, Brant LCC, Polanczyk CA, Malta DC, Biolo A, Nascimento BR, Souza MFM, et al. Estatística Cardiovascular – Brasil 2021. Arq. Bras. Cardiol. 2022;118(1):115-373.

4 VALER, Daiany Borghetti et al. O significado de envelhecimento saudável para pessoas idosas vinculadas a grupos educativos. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Rio de Janeiro, 2015.