Universidades e prefeituras buscam soluções para agrotóxicos na chuva
(Texto: Michele Fernandes Gonçalves)
Uma parceria entre UFSCar, Unicamp e USP indicou caminhos interessantes nos últimos meses para a interação entre universidades, mídia, poder público e população, visando maior presença do conhecimento científico em políticas públicas. Um estudo realizado no escopo dessa parceria ganhou grande repercussão a partir de notícia produzida pelo Instituto da Cultura Científica (ICC) da UFSCar e publicada no Portal da Universidade. O trabalho integra o projeto temático PLAST-AGROTOX, financiado pela Fapesp e coordenado por Cassiana Montagner, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp; Walter Waldman, do Departamento de Física, Química e Matemática (DFQM-So) da UFSCar (Campus Sorocaba); e Evaldo Espindola, da Escola de Engenharia da USP em São Carlos (EESC).
A pesquisa que originou o interesse de veículos televisivos, jornais e publicações eletrônicas de abrangência local, regional e nacional foi desenvolvida entre os anos de 2019 e 2021 e tratou da presença de agrotóxicos na água da chuva nas cidades de Brotas, Campinas e São Paulo. O estudo foi publicado na revista Chemosphere no início deste ano. Embora em níveis residuais, o achado de 14 agrotóxicos, dentre eles o carbendazin, proibido no Brasil, e o 2,4-D, potencialmente cancerígeno, foi suficiente para causar comoção entre profissionais de Imprensa, na população e, também, no poder público em algumas das cidades onde foram coletadas as amostras de água analisadas. Em maio, esse processo resultou em uma reunião entre Montagner e representantes das prefeituras de Campinas, incluindo o Secretário de Meio Ambiente, Braz dos Santos Adegas Júnior, e de Brotas, incluindo a Prefeita, Leca Berto, e a Secretária de Meio Ambiente, Luciana Pires de Jesus.
“A integração entre a universidade e o poder público é essencial para que a Ciência desenvolvida nos laboratórios de pesquisa se transforme em ações concretas em prol da melhoria da qualidade de vida da população”, defende Montagner. Essa melhoria foi a preocupação no centro do encontro, no qual os dados sobre as concentrações e riscos dos agrotóxicos foram detalhados e possibilidades de parcerias para o monitoramento e o desenvolvimento de políticas públicas foram aventadas. Dessa reunião também derivou a primeira ação conjunta entre os pesquisadores do projeto temático e a Prefeitura de Brotas. Em 5 de junho, a autora principal do estudo, a pesquisadora de pós-doutorado Mariana Dias, apresentou os resultados na programação comemorativa da Semana do Meio Ambiente do Município.
Combustível para as discussões
Não é de hoje que Brotas se preocupa com os agrotóxicos, sobretudo no que diz respeito à pulverização por aviões nas plantações de cana-de-açúcar. A vereadora Jane Suzegan, presente no evento em alusão à Semana do Meio Ambiente, compartilhou que a notícia sobre a contaminação veio em um momento crucial, pois se está discutindo na Câmara Municipal um projeto de lei de sua autoria que trata especificamente da proibição dessa pulverização, visando sobretudo a proteção de nascentes e dos insetos, principalmente as abelhas. “O projeto tem a participação de diversos setores da sociedade. A partir dessa palestra, pudemos obter mais dados científicos no sentido de avançar nessa discussão”, afirmou.
Nas palavras da Secretária de Meio Ambiente da cidade, a repercussão da notícia sobre a chuva de Brotas “engajou a população e os profissionais do turismo”. O presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente (Condema) de Brotas e conselheiro do Comitê da Bacia Hidrográfica Tietê-Jacaré, Fábio Lenci, mais um dos presentes no evento, também comentou a repercussão. “Os dados reforçam um questionamento que já vem de muito tempo”, registrou. Para ele, a importância da pesquisa está em criar e fortalecer uma conversa necessária e realista, a partir de evidências científicas, sobre a situação da aplicação dos agrotóxicos no Município.
“O diálogo aberto entre os pesquisadores e os tomadores de decisão em políticas públicas não é uma tarefa trivial”, conclui Montagner. “Ele requer uma linguagem técnica, porém universal, e quando bem equalizado, permite conhecer mais a fundo os problemas da sociedade, com avanços expressivos voltados a soluções duradouras.” No último dia 22, a pesquisadora se reuniu com representantes do Ministério Público Federal para tratar das preocupações levantadas pelos achados da pesquisa. Novos desdobramentos e futuras parcerias parecem se desenhar no horizonte do combate aos agrotóxicos na água da chuva. O vídeo que conta mais sobre essa história pode ser acessado no canal UFSCar oficial no YouTube.