Seminário fala de equidade de gênero e raça no SUS

Evento, aberto às pessoas interessadas, acontece no dia 13 de junho, no Campus São Carlos da UFSCar

Acontece em 13 de junho a segunda etapa do II Seminário Enfrentamento a Iniquidades no SUS, com mesas sobre Comunicação Científica e sobre Vulnerabilidades e Temáticas Complexas em Saúde. Aberto a todas as pessoas interessadas, o evento integra as atividades da pesquisa “Tecnologias sociais e de saúde para o enfrentamento das iniquidades de gênero, raça e classe no campo da formação e assistência em saúde no SUS”, associada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão da Clínica (PPGGC) da UFSCar, que celebra seus 15 anos em 2025. A programação acontecerá ao longo do dia todo, no auditório do edifício Sérgio Mascarenhas, área Norte do Campus São Carlos (atrás da Rádio UFSCar.

Na parte da manhã, a partir de 9 horas, o tema “Comunicação Científica em Saúde” será debatido a partir de apresentações de Mariana Pezzo, Diretora do Instituto da Cultura Científica (ICC) da UFSCar, e Tiago Marconi, bolsista de divulgação científica no ICC responsável pelo atendimento ao projeto. A mesa deverá abordar tanto questões conceituais relativas a objetivos, públicos e práticas de comunicação pública da Ciência, quanto possibilidades de aplicação em iniciativas e produtos específicos.

À tarde, a partir de 13h30, o tema “Vulnerabilidades e Temáticas Complexas em Saúde: caminhos possíveis e diálogos na Atenção Primária em Saúde na direção da Equidade em Saúde” terá como apresentadores Ademir Lopes Junior, Débora de Souza Santos e Elisabeth Meloni Vieira. Lopes Junior é médico e integra o Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Santos é enfermeira, docente na Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordena o Grupo Uhayele de Estudos e Pesquisas para Equidade Social, Racial e de Gênero na Saúde. Vieira é médica, docente na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), atuante na área de gênero e saúde reprodutiva.

A inscrição, que não é obrigatória para participar, pode ser feita neste link.

Equidade em Saúde
A primeira etapa do Seminário aconteceu no dia 26 de maio, com o tema “A Equidade em Saúde no SUS e a Saúde Mental na Atenção Primária: quais caminhos?”. Na abertura do evento, Aline Nordi, atual coordenadora do PPGGC fez fala em celebração aos 15 anos do Programa, “que, mais do que formar mestres, tem como horizonte contribuir de forma crítica, comprometida e inovadora para o fortalecimento do SUS e para a transformação das práticas em saúde no Brasil”. Ela destacou alguns resultados alcançados nesse período, como o desenvolvimento de 122 projetos de extensão e 42 projetos de pesquisa, a maioria orientada para problemas concretos vivenciados pelos mestrandos no cotidiano do trabalho em saúde.

Em seguida, falou Cinira Magali Fortuna, Professora Titular no Departamento Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP (EERP-USP). Dentre outros temas, ela tratou do conceito de equidade e da saúde pública como direito de todas as pessoas e dever do Estado — ponderando que “não é porque está na Constituição que está posto” e que o sistema público de saúde precisa considerar a questão da desigualdade entre as pessoas. Destacou como diferentes condições podem se somar para aumentar a vulnerabilidade de indivíduos e inclusive dificultar seu atendimento pelo SUS. A professora também abordou como a chamada “nova gestão pública” tem tentado fazer com que a saúde pública opere sob uma lógica de serviços privados, com parâmetros como mensuração de objetivos, indicadores de performance e foco na avaliação de resultados, além de vínculos precários de trabalho e competição entre profissionais.

Sabrina Ferigato, docente no Departamento de Terapia Ocupacional (DTO) da UFSCar e, atualmente, Pró-Reitora de Assuntos Comunitários e Estudantis da UFSCar, abriu sua fala defendendo que a saúde mental perpassa a atenção primária em saúde (APS). Ela avaliou que o contexto de cibercultura e neoliberalismo em que vivemos “aprofunda uma espécie de hiperconectividade para a desconexão com a presencialidade, o individualismo, a falta de tempo, a captura da atenção”, cuja resposta mais comum é a medicalização da vida e a psiquiatrização do sofrimento psíquico, e que essa cultura está no contrafluxo do discurso da APS, que é integral, longitudinal, baseada no vínculo, na territorialização, no acolhimento, na proximidade, no tempo do acompanhamento de uma família em um filme, e não em uma fotografia. Sabrina Ferigato também apresentou algumas estatísticas de saúde mental nas Américas, recomendações da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), e disse sonhar com uma política pública que considere a saúde mental como transversal a todas as políticas, assim como foi feito com a humanização.

Depois, o microfone ficou disponível para o público, cujos relatos e perguntas trataram de temas variados como tecnologia e saúde mental, saúde mental indígena, dificuldade de acesso dos usuários aos serviços de saúde, comportamentos preconceituosos de profissionais de saúde e influência de valores religiosos na atuação dos profissionais.

“O evento traz uma riqueza de discussões, nos faz refletir o quanto temos de avançar. É muito bom para que no dia a dia possamos fazer com que essa informação chegue para os profissionais de saúde do SUS, para que lá na ponta eles tenham esse conhecimento e façam com que isso seja replicado”, comentou Orivaldo Ademir Reguin, Secretário de Saúde de Matão, ao fim do debate. Matão é um dos municípios participantes da pesquisa.

Enfrentamento a iniquidades no SUS

O projeto “Tecnologias sociais e de saúde para o enfrentamento das iniquidades de gênero, raça e classe no campo da formação e assistência em saúde no SUS” (que adotou o “apelido” Enfrentamento a Iniquidades no SUS) tem por objetivo apoiar a criação de novas estratégias de capacitação para que profissionais envolvidos com a Atenção Primária à Saúde lidem com desigualdades e vulnerabilidades. Contemplado na Chamada Nº 21/2023 - Estudos Transdisciplinares em Saúde Coletiva do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), junto com os ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Saúde, está previsto para se desenrolar até fevereiro de 2027. Saiba mais em matéria publicada no Portal da UFSCar. Saiba mais em matéria publicada no Portal da UFSCar.