Justiça climática: um termo para refletir antes, durante e depois da COP
Se há um termo que a COP 30 vem evidenciando, sem dúvida, é o da justiça climática. Nos mais diversos painéis e sessões realizados na Zona Azul, na Zona Verde e nas inúmeras atividades paralelas, grupos e pessoas têm se dedicado a refletir sobre o tema.
Podemos compreender o termo “justiça” como o ato de reconhecer o mérito ou o valor de algo ou de alguém, nas mais complexas diversidades. O Brasil é um país de múltiplas diversidades. Uma delas é a sua diversidade biológica, com espécies vegetais e animais distribuídas nos vários biomas e ecossistemas do nosso vasto território. Outra é a diversidade cultural – de povos, raças, etnias e tradições. Exemplo disso é a recente publicação do Censo 2022 do IBGE, que revela a existência de 391 etnias e 295 línguas indígenas faladas no País.
Mas como essas diversidades vêm sendo reconhecidas e valorizadas? E, sobretudo, como são afetadas pelas mudanças climáticas? A resposta revela desigualdades: os impactos das alterações climáticas não atingem a todos da mesma forma.
O termo justiça climática significa, portanto, reconhecer que os efeitos das mudanças climáticas – como secas, inundações e ondas de calor extremo - afetam determinados grupos sociais de forma mais intensa do que outros.
E quem são esses grupos? Onde vivem? Em sua maioria, são pessoas pobres, negras, mulheres, que habitam territórios populares como favelas, periferias, comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas, dentre outras. Tais territórios expressam as maiores desigualdades socioespaciais da urbanização brasileira. Eles retratam políticas públicas incompletas e baixos investimentos, reproduzindo condições de riscos e vulnerabilidades que são cada vez mais agravadas pelos eventos extremos.
Voltando aos dados recentes do IBGE: mais da metade da população indígena vive nas cidades. As áreas urbanas, fora das terras indígenas, têm predominância feminina. A população indígena em áreas urbanas tem menor acesso aos serviços de saneamento. A população de favela é mais negra e jovem que o restante do País. Percebem como a injustiça climática possui cores, gêneros, classes sociais e endereços?
Colocar a justiça, a equidade e os direitos humanos no centro das decisões da COP 30 e das ações sobre mudanças climáticas deve ser, portanto, estratégia fundamental. Uma estratégia que impulsione ações concretas de reparação e ampliação de direitos. A partir disso, é possível criar agendas práticas de proteção de povos e territórios e de estratégias de mitigação e de adaptação climática nas cidades.
Para o Observatório do Clima, a justiça climática deve ser trabalhada sob a perspectiva da interseccionalidade, que nos permite compreender como diferentes eixos de opressão se somam e se cruzam sobre os grupos vulneráveis. A interseccionalidade é uma espécie de lente, que nos ajuda a enxergar o mundo de uma maneira diversa e inclusiva, e que nos faz ajustar o foco para incluirmos grupos historicamente invisibilizados.
Ao longo desta primeira semana da COP 30, assistimos a diferentes líderes e representantes desses grupos buscando ampliar essas lentes e reivindicar propostas para que seus direitos sejam incluídos nos acordos que estão sendo estabelecidos.
E esses acordos não devem permanecer apenas no âmbito das agendas globais e multilaterais. Devem, cada vez mais, pautar decisões estratégicas dentro dos ambientes universitários, envolvendo as diversas frentes de ensino, pesquisa e extensão.
Com a iniciativa “UFSCar no Clima”, coordenada pelo Instituto da Cultura Científica (ICC) da UFSCar, buscamos justamente dar visibilidade às diversas ações que a Universidade Federal de São Carlos já realiza em relação às pautas climáticas.
Para além desse mapeamento, e para além da COP 30, esperamos promover atividades que sejam disseminadas nos cinco campi, ganhem escala, ampliem horizontes, promovam justiça climática e ações concretas, nos mais diversos temas e territórios nos quais a comunidade UFSCar atua e impacta positivamente.
Quem quiser se juntar a nós, sabe onde nos encontrar:
