Eventos sobre mudanças climáticas e desastres reúnem subsídios à COP30
Conforme as mudanças climáticas se aprofundam, os eventos extremos aumentam em frequência e intensidade, causando desastres ao redor do Planeta. Basta prestar atenção às notícias para perceber essa dinâmica.
Mas, para que não restem dúvidas, as evidências dela se acumulam. No Brasil, uma nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), de janeiro deste ano, conclui que no “Brasil, em 2024, eventos climáticos extremos, ao interagir com as condições de exposição e vulnerabilidade, deflagraram desastres que resultaram em óbitos, afetaram a economia local e regional e causaram fortes impactos em sistemas humanos e naturais”. Internacionalmente, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirmou na divulgação seu relatório anual sobre mudança climática, em março, que “ciclones tropicais, inundações, secas e outros perigos em 2024 levaram ao número mais alto de deslocamentos registrado nos últimos 16 anos, contribuíram para agravar crises alimentares e causaram grandes perdas econômicas”.
É nesse contexto, em que mudanças climáticas e desastres se entrelaçam cada vez mais, trazendo perspectivas bastante preocupantes, que a UFSCar sedia, de 22 a 25 de abril, no Campus São Carlos, dois eventos simultâneos com o tema “Gestão de Desastres e Sistemas Complexos no contexto de Mudanças Climáticas”: a primeira edição do Simpósio de Ciências Ambientais (SiCAm) e a oitava edição da Jornada de Gestão e Análise Ambiental (JoGAAm). Concebidos e organizados por estudantes e docentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCAm) e do Curso de Bacharelado em Gestão e Análise Ambiental, os eventos pretendem promover o contato entre academia e sociedade em discussões sobre temas relevantes da área e colaborar com o desenvolvimento de soluções inter e multidisciplinares. As conferências e mesas-redondas do evento fazem parte também do projeto CODeS, que busca desenvolver ferramentas computacionais para analisar dados relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Também estão na programação, disponível no site dos eventos, apresentações de trabalhos e pôsteres e sete minicursos.
Frederico Yuri Hanai, professor do Departamento de Ciências Ambientais (DCAm) e um dos coordenadores do evento, registra como “o tema é de crucial importância nas diferentes escalas da vida cotidiana de cidadãos, comunidades, empresas, organizações da sociedade civil e afins, além das rotinas da gestão pública”. Ele aponta que os desastres não são mais uma excepcionalidade em muitos municípios brasileiros, tendo se tornado uma “nova normalidade” de crise socioambiental. Hanai defende que o aumento da severidade e da frequência de eventos do clima associado à expressiva vulnerabilidade social no País tornam urgente a discussão de métodos e técnicas que catalisem grandes volumes e diferentes tipos de dados para subsidiar a tomada de decisão orientada para processos de preparação e resposta a eventos extremos.
Nesse sentido, uma iniciativa importante será a redação de uma carta à COP30, a ser elaborada a partir das discussões realizadas ao longo dos quatro dias, sobre assuntos variados como “Análise de dinâmicas Climáticas, Hidrológicas e Epidemiológicas através de abordagens de Sistemas Complexos", “Inteligência Artificial no suporte à gestão de desastres socioambientais" e “Métodos da Geografia e da Demografia para interpretar Desastres Socioambientais", dentre outros. A carta, que será encaminhada à organização da Conferência das Partes, que acontece em novembro em Belém, no Pará, tem por objetivo propor ideias com bases científicas fundamentadas e congruentes para o enfrentamento dos desafios socioambientais da atualidade.
Para quem ainda não está familiarizado com o tema, o site do evento disponibiliza uma cartilha com explicações básicas sobre a COP30, elaborada pelo Programa de Educação Tutorial Ambiental da UFSCar.
"Haverá um esforço coletivo para que o teor da carta e outros documentos derivados do evento seja amplificado suficientemente para alcançar e subsidiar os recursos de voz daqueles que representem a perspectiva brasileira na COP, pois é desta perspectiva nacional e socioambiental que a carta será elaborada”, compartilha Norma Valêncio, Professora Sênior no DCAm e responsável pelo CODeS.